sábado, 24 de julho de 2010

Na briga pela audiência vale tudo.

A violência já tomou seu espaço nos telejornais brasileiros e a exposição excessiva de alguns casos, acabam sendo nada mais do que o BBP - big brother policial, que na singela visão desse que vos escreve, deveriam ser mantidos em sigilo, para que as investigações não sejam comprometidas, o texto abaixo sintetiza esse pensamento:


Yahoo Colunistas - Opinião - televisão
Por Ale Rocha . 23.07.10 - 15h29

Os limites da violência

Não há dúvidas que a violência é um prato cheio para a televisão. Desde a década de 90, telejornais sangrentos disputam a atenção do telespectador. Um dos primeiros a explorar crimes em busca da audiência foi o “Aqui Agora”, exibido pelo SBT entre 1991 e 1997. Com o slogan “um jornal vibrante, uma arma do povo, que mostra na TV a vida como ela é!”, o programa chegou a exibir o suicídio de uma jovem, que se jogou do alto de um prédio na região central de São Paulo.
Outras atrações do gênero surgiram na cola do “Aqui Agora” e aproveitaram a violência para ganhar alguns pontos no Ibope. “Cidade Alerta” (Record), “Repórter Cidadão” (RedeTV!), “Brasil Urgente” (Band), “190 Urgente” (CNT) e “Balanço Geral” (Record) fizeram a fama de jornalistas e apresentadores como José Luiz Datena, Marcelo Rezende e Carlos Massa, o Ratinho. Sem esquecer o clássico “Cadeia Nacional”, da extinta Rede OM de Televisão, comandado pelo falecido Luiz Carlos Alborghetti, autor de frases como “bandido é bandido, malandragem, e bandido você tem que mandar matar!”.
Olhando para o passado, fica a sensação que o fundo do poço sempre pode ser mais profundo e ainda conta com um calabouço. Casos mais recentes, como a cobertura da morte da menina Isabella Nardoni e do julgamento do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, revelam que os casos policiais transcendem os telejornais sangrentos. Atualmente, a morte virou um componente obrigatório na televisão. Basta observar a cobertura sobre a morte da advogada Mércia Nakashima e sobre o desaparecimento de Eliza Samudio.
O “Big Brother” policial é alimentado pela exibição e reexibição exaustiva de vídeos exclusivos obtidos de forma nada transparente e que expõem procedimentos que deveriam ser sigilosos, casos do depoimento do goleiro Bruno dentro de um avião e do interrogatório de Mizael Bispo de Souza, suspeito da morte da advogada Mércia Nakashima.
Adicione a isso dezenas de entrevistas com pretensos especialistas que infestam programas femininos e de variedades, como o “Hoje em Dia” (Record) e “A Tarde é Sua” (RedeTV!), entre outros. A busca por uma fatia do bolo é tão desesperada que, nesta semana, até mesmo o matinal e leve “Mais Você” (Globo) abordou o desaparecimento de Eliza Samudio. Ana Maria Braga entrevistou Fernanda Gomes de Castro, amante do goleiro Bruno.
A transformação de investigações policiais em novelas ou reality shows coloca a ética jornalística em discussão. Até que ponto a televisão pode se aproveitar de um momento de dor em busca de audiência, anunciantes e retorno financeiro?
Por mais que a TV não seja a única fonte de informação, e venha perdendo força neste terreno, ela ainda reina absoluta entre os brasileiros. Não se pode ir às favas com o respeito às vítimas e transformar a morte em algo explícito e prolongado apenas para garantir audiência.