segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Caos e desvios, afetam entrega de doações (FSP).

Apesar do caos e dor que vivem as vítimas de algumas cidades na região serrana do Rio, oportunistas ou poderia dizer "bandidos", aproveitam-se da situação e tentam lucrar com a desgraça alheia e assim revelam-nos que o brasileiro com certeza é um povo solidário, porém também "esperto", abaixo segue a matéria:
 

São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011


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Caos e desvios afetam entrega de doações

Militares envolvidos na distribuição de mantimentos ouvem relatos de que há pessoas que pegam produtos sem precisar

Há locais onde morador implora por água; centro de coordenação operacional foi criado para melhorar logística

ALENCAR IZIDORO
MARLENE BERGAMO
ENVIADOS A NOVA FRIBURGO
HUDSON CORREA
ENVIADO A TERESÓPOLIS

Há ao menos 170 toneladas de doações e milhares de voluntários. Mas a situação caótica na região serrana do Rio tem dificultado a entrega de água, comida e roupas aos moradores que mais precisam de ajuda. Também começam a surgir indícios de desvios das doações.
Em Nova Friburgo, militares envolvidos na rede de assistência ouvem relatos de aproveitadores que pegam doações sem precisar ou tentam comercializar produtos.
"O cúmulo é essa história de buscar cesta básica para vender. Ou então, gente que aparece com carrão de luxo querendo mantimento", disse Edson Ney dos Santos, 41, sargento da Marinha.
Em Teresópolis, um dos coordenadores do atendimento, o empresário Sérgio Epifânio, disse que pessoas se registraram como voluntárias só para receber doação.
"Tem gente que recebeu e não estava desabrigado. Tem gente que recebeu dez vezes a mesma coisa."
Na cidade, o centro que recebe e distribui donativos é o ginásio Pedrão. Epifânio cuida do acesso à quadra esportiva. No local são distribuídas as roupas.
PMs vigiam o procedimento. Epifânio chama um PM e aponta para um voluntário que, segundo ele, precisa ser retirado da quadra para não desviar donativos.

CARÊNCIA
Enquanto isso, há moradores que imploram por ajuda em locais afastados, como a Folha constatou em Friburgo ao acompanhar a entrega de mantimentos feita por três caminhões da Marinha.
"Água, meu senhor", gritavam mulheres do bairro de Riograndina, atirando-se à frente do comboio.
Em Friburgo, as maiores doações são concentradas em espaços desativados da fábrica Ypu. O montador Rodrigo Regly, 29, esteve ontem por lá, como representante de um grupo de 200 famílias, para reivindicar alimentos no Alto do Mozer.
"Estão todos isolados há cinco dias. Não tem água, luz e ninguém aparece."
No trajeto percorrido pela Folha num caminhão da Marinha com três toneladas de comida, a rota teve que ser alterada duas vezes: primeiro, devido à queda de uma ponte; depois, pelo desabamento de um morro.
Percurso que não deveria levar nem meia hora demorou duas. Os engarrafamentos são um problema até para veículos oficiais. Há tantos que a prioridade de circulação não significa agilidade.
Nos bairros atendidos, os militares eram recebidos com gratidão. "Estávamos bebendo água da goteira", dizia Emilia Patueli, 72, moradora de Riograndina.
O vice-governador, Luiz Fernando Pezão, admitiu problemas, mas disse que as entregas devem ser normalizadas porque foi criado um centro de coordenação operacional, que reúne as prefeituras das cidades atingidas, Estado e União.
O centro será comandado pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general José Elito Siqueira.

Colaboraram JANAÍNA LAGE, no Rio, e FELIPE CARUSO, em Friburgo