sábado, 10 de abril de 2010

A culpa é de quem?

Vou iniciar meu texto com um trecho da música da Legião Urbana, meninos e meninas, onde temos:

"...Então, a culpa é de quem? A culpa é de quem? ..."

É a pergunta que me faço e, aproveito e repasso, pois com os acontecimentos dos últimos meses, onde as chuvas assolaram, vários estados brasileiros, mas com maior destaque para o Rio, que nesta semana está enfrentando uma situação caótica, penso, somos culpados pela situação vivida por aquelas pessoas que estão sofrendo com os estragos causados pelas chuvas. Sinto-me culpado, por conta de não saber eleger representantes decentes para o legislativo e para o executivo, seja ele, municipal, estadual ou federal.

Depois que a tragédia vem a tona, aparece um montão de gente para dizer que “a área onde as casas estavam, era de risco”, ou então, como ouvi no jornal da noite, “a defesa civil já havia alertado para o problema”, se já era conhecido o problema, porque não preveniram? É necessário centenas de pessoas perderem a vida, para que o governador consiga algumas moradias, fora das áreas de risco, financiadas pelo “minha casa, minha vida”, que já veio tarde, pois as famílias que receberão o benefício, estão destruídas.

Cabe a todos nós, dar um basta nessa hipocrisia, governante e poder público que só aparecer quando o pior já aconteceu, quando famílias foram destroçadas, e centenas de moradias desceram morro abaixo; o morro está lá, todo dia com barracos e casas de alvenaria novas, que desafiam as leis da física e a engenharia, o Estado faz de conta que não vê, as concessionárias de água e energia, instalam seus relógios, pois independente de onde esteja a moradia, o importante são os lucro$, e assim, mais e mais morros são ocupados, desmatados, concretados e no final das contas, a culpa é do excesso de chuvas.

É absurdo parte de um bairro ser erguido em cima de um lixão desativado, e simplesmente o poder público não fazer nada para impedir a ocupação do local, pelo contrário fez obras a fim de “melhorar a infraestrutura” da localidade, é muita incompetência.

Portanto devemos neste ano de eleições, darmos uma resposta a altura, não reeleger ninguém, e votar em gente que realmente tenhamos confiança, e depois de eleitos acompanhar e cobrar o cumprimento de suas obrigações, a mais importante, está servir em a população, para o bem da população.

E como canta os Garotos Podres, na música Anarquia oi, “...Não acredite, em falsos lideres, pois todos eles, vão te trair...”, vamos abrir os olhos e usar conscientemente nossos votos.

na imprensa:


São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010


CARLOS HEITOR CONY

A condição humana RIO DE JANEIRO - O recente temporal que se abateu sobre o Rio, bem como as tragédias vividas pelo Chile, pelo Haiti e, em doses menores, por outras regiões deste mundo, demonstraram mais uma vez a dicotomia da condição humana em seus aspectos principais: o bem e o mal.
Em primeiro lugar, o bem. Foram comoventes os atos de solidariedade nas tragédias recentes. Para o Haiti e para o Chile, foram canalizados recursos substanciais de todas as partes do mundo. Aqui no Rio, aqueles que a mídia chama de "populares" arriscaram a própria vida para salvar os feridos. O mesmo ocorreu nas cidades atingidas pelos recentes terremotos. Ponto favorável para a condição humana.
Ao mesmo tempo, e nos mesmos cenários, despontou a selvageria com saques e assaltos, que demonstraram os dois lados da mesmíssima condição humana.
Aqui no Rio, os congestionamentos facilitaram assaltos. Os carros abandonados nos alagamentos foram saqueados, como saqueados foram os supermercados do Chile e do Haiti.
Garantem que em algum ponto do universo há um Senhor de barbas brancas que desde o início dos tempos toma nota dos atos humanos para posterior recompensa ou castigo. Foi assim que abriu as cataratas do céu para inundar a Terra com o dilúvio, salvando apenas um justo.
Esse Senhor de barbas brancas deve ter dificuldade para julgar a sua própria criação. Há justos que salvam vidas e dão exemplos de solidariedade e de amor ao próximo. Há vândalos que nada respeitam e aproveitam a tragédia, a aflição do instante para tirar vantagens, muitas vezes insignificantes, só pelo prazer ou pela obrigação de exercer o lado sinistro da condição humana. Um dilúvio não resolve a questão.



São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010


CLÓVIS ROSSI

Subdesenvolvidos. E felizes SÃO PAULO - Não deixa de ser uma cruel ironia que o Brasil seja tratado universalmente como potência emergente no momento em que sua cidade mais bonita submerge por inteiro.
Os patrioteiros de plantão dirão que qualquer cidade se afogaria com tanta chuva. É verdade, mas é só parte da verdade. Menos mal que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o governador, Sérgio Cabral, tiveram o bom senso de acrescentar "problemas estruturais" ao excesso de chuva como responsáveis por tamanho estrago.
"Problemas estruturais", do tipo ocupação selvagem de encostas, como afirmou Cabral, é uma maneira elegante de dizer que o Rio, como o Brasil, não é emergente, é subdesenvolvido.
Pena que Deus, ou a natureza, ou quem seja, vira e mexe envie lembretes a respeito. Hoje, no Rio; ontem, em São Paulo; anteontem, em Angra dos Reis; antes de anteontem, em Santa Catarina; amanhã, sabe-se lá onde.
No mesmo dia em que os jornais se ocupavam com a tragédia carioca, saía pesquisa de uma financeira que pretendia mostrar que estamos emergindo, mas que prova o inverso. Ficamos sabendo que a classe C (ou classe média) foi a que mais se expandiu em 2009, sinal de que já não somos tão pobres.
Não? Vejamos: a renda familiar (a familiar, não a individual) mensal da classe C é de R$ 1.276, o que dá um pouco mais do que dois salários mínimos e bem menos do que os R$ 1.995,28 que o Dieese considera o valor necessário (do mínimo, não da classe média, que, como o nome indica, deveria estar acima).
Comparemos agora com a Espanha, o país rico mais "comparável" com o Brasil: cada desempregado espanhol recebeu em fevereiro, na média, 900, equivalentes a R$ 2.110, ou 65% mais que a renda da classe média brasileira. E os desempregados espanhóis não são chamados de emergentes.
crossi@uol.com.br